terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Dons do Espírito Santo: Temor de Deus

Como é possível que o temor seja um dos dons que recebemos do Espírito Santo? Pois, sendo Ele o mais perfeito amor entre Deus Pai e Deus Filho, como pode dar-nos esse dom de temor ? Além do mais, São João nos revela que o perfeito amor lança fora o temor (I Jo 4, 18). Para melhor entendermos este dom, é preciso analisar os diferentes tipos de temor. 

Nós tememos a dor, tememos a vergonha; Existe também um temor mundano, o qual nos faz esquecer os santos mandamentos de Deus, levando-nos a pecar. Quantos não separam-se de Deus por tal temor? Um rapaz que é tido como “careta” por viver a castidade, ele, então, resolve ceder e “atualizar-se”, pois teme o mundo, teme ser ridicularizado, marginalizado e ser motivo de zombaria. 

Do mesmo modo, existe um outro tipo de temor, contrário ao descrito anteriormente, esse temor nos afasta do pecado e nos leva para mais perto de Deus. Contudo, esse temor é imperfeito, pois, ele teme a punição pelo pecado, ele teme ser punido por Deus de alguma forma. Embora seja imperfeito, esse temor garante que muitos não caiam no pecado. Os teólogos chamam-no de “temor servil” e ele NÃO é o dom do temor de Deus. 

Existe um outro temor que é chamado filial, neste temor, a alma sente um repudio ao menor pensamento de encontrar-se separada de Deus. Este temor vem do amor. Embora seja verdade que o perfeito amor lança fora o temor, também não deixa que ser verdade que o temor é a base do amor. Todo aquele que ama, experimenta um grande temor de ser separado do seu amor, ou de magoá-lo. O amor não é capaz de existir sem esse temor. 

O Espirito Santo nos une à Deus de uma forma tão profunda, que sentimos horror de separar-nos de Deus: desejamos tudo menos sermos separados Dele; tudo menos perdermos a união com o Amado; Isso é um temor filial, nobre, nascido do amor. O perfeito amor filial é o dom do temor de Deus. 

O temor filial também é o inicio da sabedoria, pois, para termos a sabedoria divina, é preciso que estejamos unidos à Deus de tal forma que nada venha a nos separar Dele. O dom do temor concede-nos esta união. 

O temor de Deus também está relacionado com algumas virtudes: humildade, pois ele faz com que reconheçamos o nosso devido lugar, nosso verdadeiro valor, nos impedindo de rebelar-nos contra Deus por acharmos sermos melhores do que realmente somos; e o grupo de virtudes relacionadas a temperança, já que estas virtudes moderam a nossa concupiscência e os impulsos desordenados de nossos corações. O temor de Deus concede-nos moderação e paz. 

Muitas grandes obras foram realizadas pelos santos através deste dom. São Luíz de Gonzaga, chorava e flagelava a si mesmo, quando tinha de confessar algumas falhas que para nós são difíceis de acreditar serem pecado. Por quê tais lágrimas do santo? Por quê tanto pesar? Porque ele pode observar tão profundamente sob a influência do Espírito Santo, a magnitude destas faltas que para nós são insignificantes. E observando-as viu-as como um sinal de separação de Deus. As falhas com certeza eram leves, mas, será que existe algo de insignificante no amor? Quando se ama intensamente, a menor suspeita de separação é capaz de partir o coração e arrancar lágrimas. 

O mesmo dom influenciou a Santa Juliana Falconieri. Ela tremia ao ouvir a palavra “pecado”, e chegava até a desmaiar ao ouvir que algum crime havia sido cometido. Isso é algo muito além do que podemos conquistar com as nossas faculdades naturais. É o efeito supernatural que Espírito Santo produz na alma, tornando-nos capazes de olhar com horror para ao pecado e nos apegar intensamente à Deus. 

O dom do temor de Deus possui alguns graus. No primeiro grau, o dom do temor de Deus produz na alma horror ao pecado e portanto concede força para vencer as tentações, contudo, ainda percebe-se muitas dificuldades e falhas.

No segundo grau deste dom, a alma não somente mantém-se afastada do pecado, mas também dirigi-se a Deus com profunda reverência, evitando até os atos insignificantes que possam ser sinais de imperfeições. Há também um profundo respeito pelas coisas sagradas (a Igreja, o Evangelho, o sacerdócio), a alma possuída por este dom visa não cometer nenhum erro de respeito e veneração para com Deus. 

Em seu terceiro grau o dom do temor de Deus exerce um efeito maravilhoso: total desapego das coisas mundanas. É por este motivo que os teólogos dizem que este dom produz a primeira bem-aventurança: a pobreza do coração. “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus” (Mt 5,3). O desinteresse de São Francisco de Assis, que considerava todas as coisas da terra como nada; o desinteresse do qual Cristo aconselhou o jovem moço no evangelho - “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens e dá aos pobres, e terás um tesouro nos céus. Depois, vem e segue-me” (Mt 19,21). Tal desinteresse é o fruto do divino dom do temor de Deus. 

[Bibliografia: The Santifier by Arcebispo Luiz M. Martinez]

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