domingo, 14 de agosto de 2011

Não Julgar?

O que fazer quando as pessoas que amamos, ou qualquer outra, vive uma vida imoral, uma vida contrária as leis de Deus? Um filho abandona a casa para ir morar com sua namorada, um jovem se declara homossexual diante da sua família, pais se divorciam e entram em novos relacionamentos. Como lidar com situações como essas?

Como agir, se quando tenta-se dizer algo, é se tido como alguém que está julgando a pessoa em questão, alguns irão dizer que a própria Bíblia ensina que não se deve julgar, sendo assim, cada um que cuide da sua própria vida. Mas será isso mesmo que a Bíblia ensina? Vamos analisar melhor essa passagem de Mateus 7, 1-5:
"Não julgueis para não serdes julgados. Pois com o julgamento com que julgais sereis julgados, e com a medida com que medis sereis medidos. Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu? Ou como poderás dizer ao teu irmão: 'Deixa-me tirar o cisco do teu olho', quando tu mesmo tens uma trave no teu? Hipócrita, tira primeiro o trave do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão."
Se analisarmos bem esta passagem, fica claro que Jesus não diz aos seus discipulos que eles nunca devem ou podem julgar o comportamento de alguém. Entretanto, Ele diz para eles agirem com cuidado e viverem uma vida reta para que seus julgamentos não sejam falhos.

"Não julgueis para não serdes julgados." Isso não significa que podemos escapar do julgamento de Deus se não julgarmos o comportamento de alguém, todos seremos um dia julgados por Deus. Então, Jesus se explica melhor: "Pois com o julgamento com que julgais sereis julgados, e com a medida com que medis sereis medidos." O próprio Jesus espera que julgamos, porém lembra-nos que seremos também julgados por Ele de maneira semelhante. Pode-se conectar este trecho com a oração do Pai-Nosso, que diz: "Perdoai os nossos pecados assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido." Ambos os trechos são um apelo de Deus para sermos cada vez mais igual a Ele na maneira em que tratamos o nosso próximo.

"Por que reparas no cisco que está no olho do teu irmão, quando não percebes a trave que está no teu? Ou como poderás dizer ao teu irmão: 'Deixa-me tirar o cisco do teu olho', quanto tu mesmo tens uma trave no teu?" Quando o sujo fala do mal-lavado seus argumentos são irrelevantes. 

Jesus ensina como devemos julgar: "tira primeiro o trave do teu olho, e então verás bem para tirar o cisco do olho do teu irmão." Podemos julgar desde que julguemos de maneira correta. Jesus também nos ensina a maneira correta de julgar em outras passagens, como:
"Não julgueis pela aparência, mas julgai conforme a justiça." - João 7, 24.
Ele instrui os seus discipulos sobre o que devem fazer se alguém pecar contra eles:
"Se o teu irmão pecar, vai corrigi-lo a sós. Se ele te ouvir, ganhastes o teu irmão. Se não te ouvir, porém, toma contigo mais uma ou duas pessoas, para que toda a questão seja decidida pela palavra de duas ou três testemunhas. Caso não lhes der ouvidos, dize-o à igreja. Se nem mesmo à Igreja der ouvido, trata-o como gentio ou publicano." - Mateus 18, 15-17.
Não é possível seguir as instruções de Jesus sem julgar o comportamento dos outros. Também Paulo, ensina sobre como julgar:
"Acaso compete a mim julgar os que estão fora? Não são os de dentro que vós tendes de julgar? Os de fora, Deus julgá-los-á. Afastai o mau do meio de vós." - 1Coríntios 5, 12-13.
"Então não sabeis que os santos (os cristãos) julgarão o mundo? E se é por vós que o mundo será julgado, seríeis indignos de proferir julgamentos de menor importância? Não sabeis que julgaremos os anjos? Quanto mais então as coisas da vida cotidiana? - 1Coríntios 6, 2-3.
O Antigo testamento também diz coisas semelhantes sobre como julgar:
"Não cometeis injustiça no julgamento. Não farás acepção de pessoas com relação ao pobre, nem te deixarás levar pela preferência ao grande: segundo a justiça julgarás o teu compatriota." - Levíticos 19, 15.
Ao contrário do que muitos acreditam, a Bíblia nos ensina a julgar de forma justa o comportamento dos outros. O Catecismo da Igreja Católica nos ensina que:
O respeito à reputação das pessoas proíbe qualquer atitude e palavra capazes de causar um prejuízo injusto. Torna-se culpado:
  • de juízo temerário aquele que, mesmo tacitamente, admite como verdadeiro, sem fundamento suficiente, um defeito moral no próximo.  
  • de maledicência aquele que, sem razão objetivamente válida, revela a pessoas que não sabem os defeitos e faltas de outros.  
  • de calúnia aquele que, por palavras contrárias à verdade, prejudica a reputação dos outros e dá ocasião a falsos juízos a respeito deles.
Para evitar o juízo temerário, todos hão de cuidar de interpretar de modo favorável tanto quanto possível os pensamentos, as palavras e as ações do próximo. Todo bom cristão deve estar mais inclinado a desculpar as palavras do próximo do que a condená-las. Se não é possível desculpá-las, deve-se perguntar-lhe como as entende; e se ele as entende mal, que seja corrigido com amor; e, se isso não bastar, que se procurem todos os meios apropriados para que, compreendendo-as corretamente, se salve. - CIC 2477-2478.
Tendo dito tudo isso, há uma grande diferença entre julgar o comportamento de alguém e julgar o destino eterno da alma da pessoa. Este último cabe somente a Deus, como nos ensina o Catecismo da Igreja Católica:
"...No entanto, mesmo podendo julgar que um ato é em si falta grave, devemos confiar o julgamento sobre as pessoas (julgamento eterno da alma) à justiça e à misericórdia de Deus." -CIC 1861.
Resumindo: Ao se deparar com os erros imorais de entes queridos, ou qualquer outra pessoa, como fazer para julgar corretamente? Deve-se começar tirando a trave dos nossos próprios olhos, e sermos exemplos de uma vida digna e moral firmada nas leis de Deus. Devemos formar bem a nossa conciência para podermos reconhecer o pecado que nos rodeia. Finalmente, não devemos julgar de forma precipitada. Agindo assim, nossas admoestações serão vistas como atos carinhosos de amor que tem como objetivo ajudar os nossos entes queridos a viver de forma agradável a Deus. Só então, os nossos esforços para tirar os ciscos dos olhos de nossos irmãos serão eficazes.

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